01/02/2009

A sangue frio (In cold blood), de Truman Capote

Lisboa: Dom Quixote, 2006 (1966), pp. 400, 10,00€

Truman Capote declarou ter inventado um novo género literário com este romance: a non-fiction novel. Isto é: um romance baseado em factos históricos, quase jornalístico. Daí a sua originalidade e fama.

É uma grande pretensão, mas sobre tudo é falsa. É evidente que Capote escolheu e determinou o estilo do narrador, a organização temporal, a justaposição de episódios, as descrições, o argumento e, acima de tudo, o tema principal.

A história é real: de facto, Perry Smith e Dick Hickock, os protagonistas do romance, assassinaram quatro membros da família Clutter numa vila americana chamada Holcomb e foram condenados a morte. Capote faz-nos entrar com mestria na vida desta família, desde o dia anterior ao início destes acontecimentos, e faz-nos acompanhar o processo judicial dos acusados nesse estilo pretensamente «frio». São frios os assassinos, é fria a descrição, e por isso fascina-nos a sua aparente objectividade. Mas Capote manipula a história para obter esses efeitos literários que fazem deste um bom romance.

O tema é actual e interessante: trata-se duma crítica ao estilo de vida americano, injusto no tratamento da tragédia desta família, assim como no uso da pena de morte, que acaba por não resolver problema algum. A visão de Capote é pessimista e ateia, mas é inteligente e perspicaz. Vale a pena.

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