29/02/2012

Esplendor na relva (Splendor in the grass)

Elia Kazan, 1961

O título deste filme vem duma das mais famosas e belas poesias do escritor do Romantismo inglês William Wordsworth, citada no próprio filme: "Though nothing can bring back the hour of splendour in the grass, / of glory in the flower, / we will grieve not, / rather find strength in what remains behind".

A beleza deste filme é que encarna duma forma poderosa e profunda esta expressão duma experiência perfeitamente humana: a perda da pureza do primeiro amor, da juventude, da inocência própria do coração sincero. Após uma primeira apresentação duma situação quase idílica, o drama da vida toma o leme na vida dos jovens namorados Bud e Deanie (Warren Beatty e Natalie Wood, no seu melhor).

Recebeu o Óscar ao melhor argumento (quando esses eram prémios sérios), porque a narração, elaborada de forma genial, leva-nos a acompanhar as vidas destes jovens com grande força emotiva e, num inesperado percurso, deixa-nos uma certa inquietação: será que realmente podemos encontrar força só no passado, renunciando no presente aos grandes ideais da juventude?

17/02/2012

Autobiografia (Autobiography), de G. K. Chesterton

Lisboa: Diel, 2012 (1936), pp. 394, 21,00€

«Curvando-me em cega credulidade, como é meu costume, diante da mera autoridade e da tradição dos mais velhos, supersticiosamente engolindo uma história que eu não posso testar no momento por experiência ou julgamento privado, sustento firmemente a opinião segundo a qual eu nasci em 29 de Maio de 1874, em Campden Hill, Kensington».

Com típica ironia, Chesterton começa assim a sua Autobiografia, um finíssimo trabalho de lírica e juízo cultural sobre a sua época. Em cada página há um aforismo que valeria a pena citar: ao tratar da sua infância nos dois primeiros capítulos, afirma que «o que é maravilhoso da infância é que nela tudo é uma maravilha»; ou, um pouco depois, que «a adolescência é algo complexo e incompreensível; nem depois de a viver se percebe bem o que é»; etc. etc.

Jornalista e polemista, e escritor de romances, teologia, biografias, ensaios, contos, crítica, poesia e até teatro, é uma figura chave do pensamento contemporâneo. Para os católicos, também é um daqueles convertidos que ajudam a apologética – o que o próprio autor faz no fim deste volume ao narrar a sua conversão.

08/02/2012

Pablo Alborán, En acústico (2011)

Nascido em 1989, Pablo Alborán é um daqueles artistas com talento que sobressai com originalidade no panorama musical actual. Com um único disco de estúdio e este ao vivo, ainda não foi «contaminado» pela indústria musical de carácter mais comercial, embora o seu enorme sucesso leve a pensar que assim poderá acontecer em breve.

As chaves deste talento podem resumir-se em três: uma voz que parece um violoncelo (Stradivarius), uma musicalidade livre com certas influências do flamenco, e uns textos pensados, elaborados, que narram sentimentos além da superficialidade a que estamos habituados. Por isso, esta versão acústica e ao vivo, com escassa produção, mostra ainda melhor a grandeza deste jovem compositor e cantor.

Um exemplo de texto: «Hoy se viste el día de colores; / me levanto lleno de alegría; / hay miles de promesas sin cumplir, / ya ves, pero mira, sigo estando aquí (Volver a empezar).

Em Portugal, este álbum foi número 1 de vendas no início de 2012, e uma sua música com a fadista Carminho deu-lhe uma grande popularidade.