29/03/2012

East of Eden (A leste do Paraíso)

Elia Kazan, 1955

Baseado na parte final do romance do Nobel da Literatura John Steinbeck, o primeiro dos filmes protagonizados pelo mítico James Dean é justamente considerado um clássico do cinema. Numa revisitação da história de Caim e Abel, lê-se entre as linhas o tema dum irmão que «mata» o outro e é condenado a viver errante, nas terras «a leste do Paraíso» (Génesis 4).

A tendência moralizante e moralista de Steinbeck é balançada nesta versão para ecrã pelo realizador Elia Kazan, quem pelo contrário prefere questionar uma visão simplista dos «bons» contra os «maus» da fita, e prefere colocar-nos perante personagens fortes, indomáveis, contraditórias.

Diz-se que Kazan teria querido Marlon Brando no papel desempenhado por Dean, e de facto é esta a personagem mais valorizada no filme, aquela que se faz amar mais. Levados também pela namorada dividida entre os irmãos, somos atraídos por este homem a um tempo perigoso e frágil, juvenil e violento, inadaptado.

Apesar do desenlace forçado, ficam no espectador algumas questões abertas sobre uma América que vive sustentada por aqueles que não acreditam nos seus ideais e, mais particularmente, sobre os indivíduos que não encontram lugar certo numa sociedade em crise de valores.

23/03/2012

Na origem da pretensão cristã, de Luigi Giussani

Coimbra: Tenacitas, 2012, pp. 138, 15,00€

Este é o segundo livro duma trilogia conhecida como o «PerCurso», da qual O sentido religioso era o primeiro. Aquele falava do homem e da sua abertura ao mistério, enquanto que este dedica a sua atenção à pessoa de Jesus Cristo e à pedagogia da revelação cristã.

O termo «pretensão» que o título inclui deve ser bem entendido: ao contrário do que possa aparentar, é a falta de pretensiosismo que caracteriza a exposição do autor. Não se trata portanto de pretender impor a visão cristã do homem, da vida e do mundo, mas de compreender qual é o horizonte ideal a que pré-tende a proposta integral do homem Jesus de Nazaré.

Fora deste texto, o autor disse numa ocasião ao descrever essa origem do cristianismo como acontecimento: «o acontecimento não identifica somente uma coisa que aconteceu e com a qual tudo teve início, mas é aquilo que desperta o presente, define o presente, dá conteúdo ao presente, torna possível o presente. (…) Fora deste ‘agora’ não existe nada! O nosso eu não pode ser movido, comovido, ou seja, transformado, a não ser por uma contemporaneidade: um acontecimento. Cristo é algo que me acontece agora».

15/03/2012

Cartas ao Pastor Jaakob (Postia pappi Jaakobille)

Klaus Härö, 2009

Certo: não aparenta prometer muito um filme finlandês com praticamente só três personagens, com o orçamento e efeitos especiais deste blog, com uma «banda sonora» composta por breves fragmentos dum nocturno de Chopin, e com uma trama que se pode resumir em 3 linhas.

Ainda assim, a história que une um pastor luterano cego, uma ex-presidiária e um carteiro, tem uma sua força humana que convence. Em pouco mais de uma hora, faz-nos entrar num mundo desconhecido, cheio de emoções quase sempre reprimidas. O mérito da realização é fazê-las ver e compreender, quase com mais clareza ao espectador do que às próprias personagens.

O tema principal questiona o papel do Pastor (no concreto, deste limitado Pastor Jaakob), cuja missão parece esgotar-se quando deixa de receber e enviar cartas de conforto e ajuda a seus seguidores. Aqui vê-se que não se trata dum padre católico (que encontraria sentido ao seu ministério também sem um «povo»), mas da visão luterana do pastor como representante da comunidade que vive em função da mesma. Por isso, em última instância, essa missão entra em crise.

Talvez valha mais a pena deter-se na personagem de Leila, cuja história parece secundária a esta, mas acaba por mostrar-se ainda mais humana e completa.