15/11/2012

À espera de Moby Dick, de Nuno Amado

Lisboa: Leya, 2012, pp. 243, 14,50€

Não é muito comum encontrar um romance contemporâneo em português com um subtítulo tão comprometido como este: «Um homem em busca de si próprio». O seu autor, nascido em 1978, não tem a pretensão de chegar a ser número 1 de vendas, mas a sua tentativa de explorar a psicologia duma perda assume aqui um empenho humano de algum interesse.

A obra narra um percurso humano de descoberta de si próprio, numa situação de crise e dum cativante radicalismo. Desde a primeira página, em que o narrador anuncia quase contrariado: «Não me vou matar», acompanhamo-lo até à descoberta de «sete biliões de motivos para não me matar», que seriam equivalentes ao número de habitantes do mundo.

Entretanto, tenta envolver-nos numa singela fuga de «aquilo-que-aconteceu», num mundo em que todos fogem dalguma coisa. Ao leitor, uma provocação: anda também a fugir de si mesmo? E há alguma razão para continuar a esperar?

08/11/2012

César deve morrer (Cesare deve morire)

Paolo e Vittorio Taviani, 2012

«Desde que encontrei a arte, a minha cela tornou-se a minha prisão». Assim diz um dos presos que teve a oportunidade de representar a tragédia de Júlio César na prisão de Roma, tema deste filme. No princípio da história, reclamava o seu direito a uma cela individual; já no final, reconhece que a arte o tinha aberto ao mundo.

É um filme estranho este. Por uma parte, dominam-no uns belíssimos textos da tragédia Julius Caesar de Shakespeare, encenados num contexto actual de grande força e que suscita muitas provocações, realizados numa sequência a três tempos e sem tempo (isto é, no tempo de César, de Shakespeare, dos presos, de ninguém...). Por outra parte, a escolha dos actores/presos, assim como o uso do preto e branco na maior parte do filme, criam distâncias muitas vezes de grande violência para o espectador.

É uma interessante experiência. Sem dúvida, de alguma forma relacionada com o maravilhoso documentário «Jesus por um dia», de Verónica Castro e Helena Inverno, duas portuguesas que filmaram a encenação duma Via Sacra por parte dos presos de Bragança numa aldeia transmontana quase desabitada.

A ligação entre os textos originais e o contexto apresentado desperta inúmeras questões sobre a justiça, a redenção, o poder, o valor da arte. Todas elas valem a pena.