A figura dum
sacerdote-detective, à moda de Sherlock Holmes ou Hercules Poirot,
só pode ter sido imaginada por uma personalidade de génio como o
convertido Chesterton. Em contos de poucas páginas, encontramos a
tradicional apresentação dum crime, as tentativas de resolução e
a desarmante sagacidade do detective que apanha o criminoso; só que,
neste caso, o tal detective não é um polícia nem um investigador,
mas um simples e aparentemente rude padre católico.
O Autor conta que, ao
encontrar e conhecer a Igreja Católica, estava certamente à espera
de que lhe falassem da moral e do bem, mas ficou espantado porque os
católicos também falavam do mal, com igual profundidade e
conhecimento de causa. Assim, quando criou a figura do detective
Padre Brown, fez com que o seu método de investigação fosse
baseado na sua experiência do mal: um padre que confessa, diz a
personagem, passa muito tempo a ouvir pecados, e por isso tem
facilidade em identificar-se com o mal que os homens fazem.
De facto, esta é a grande
novidade de Chesterton nesta colecção de contos (que é a primeira
de 5 séries, com um total de 50 histórias independentes): ao
contrário dos métodos racionalistas e dedutivos que Conan Doyle
aplicou para Sherlock Holmes, ou que ainda antes Allan Poe prefigurou
no detective Dupin dos Assassínios da Rua Morgue, Chesterton usa a
observação, o realismo e a experiência directa para que o seu
Padre Brown desmascare o mal, sempre tão misturado com o bem...