19/01/2011

Azul (Bleu)

Krzysztof Kieslowski, 1993

Azul é o primeiro dos três últimos filmes do realizador polaco Kieslowski, todos eles com títulos de cores (azul, branco e vermelho). São essas as três cores da bandeira francesa, e nos filmes representam as três ideias base da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Nesta entrega, o primeiro destes temas é estudado segundo a definição moderna de liberdade como ausência de ligações. Uma muito jovem Juliette Binoche, Julie no filme, perde o marido e uma filha num acidente de viação. Perante a trágica situação, de forma mais ou menos consciente decide viver uma existência anónima, independente e solitária. Como se a ausência de afectos e recordações pudesse libertá-la das suas feridas.

Felizmente, algumas pessoas do passado e a música (de Zbigniew Preisner, belíssima nos três filmes) obrigam-na a voltar a criar relações, isto é, a ter a possibilidade de ser realmente livre. Ao tentar completar a composição em que o falecido marido estava empenhado na altura, descobre a sua liberdade na realização de algo superior a ela própria.

O filme é profundamente evocativo e poético, mas antes de o ver é necessário recordar que na língua inglesa a palavra blue também significa tristonho ou deprimido...

02/01/2011

As minhas leituras, de L. Giussani

Coimbra: Tenacitas, 2010 (1996), pp. 224, 15,00€

Sem dúvida, este é um livro muito especial. Não é bem um ensaio de crítica literária, e também não é uma simples leitura comentada de alguns textos. É uma colecção de conferências ocasionais e leituras públicas feitas por um sacerdote, considerado por muitos católicos um dos grandes renovadores da cultura contemporânea e galardoado com o Prémio Internacional da Cultura Católica.

De fácil leitura, é um daqueles livros que suscitam o gosto pela literatura desde dentro: não se limita a dar alguns dados biográficos de certos autores ou indicações gerais relativas a certas obras, mas identifica neles problemas e questões universais dos homens e mulheres de todos os tempos. Assim, o leitor não só aprende a apreciar melhor as obras apresentadas, como também um método de avaliação e de leitura que considera estes processos em termos mais plenamente humanos.

Tanto se já se leram os autores comentados como se ainda não se fez, fica-se com a vontade de os reler e aprofundar ainda mais, uma vez que Giussani consegue abrir-nos horizontes novos lá onde já pensávamos ter desistido de procurar.