28/12/2011

Contos e lendas da tradição cristã, por Lois Rock

Lisboa: Verbo, 2006, pp. 96, 17,00€

«Contos de adultos para crianças» ou «contos de crianças para adultos» são expressões cliché, mas adaptam-se bem a esta breve e simples colecção de sabor quase natalício. Sobretudo, as modernas ilustrações dão-nos a entender imediatamente que o volume não é (ou pelo menos não é só) infantil.

Alguns destes contos são histórias e lendas de santos: são Patrício, santo Isidro, são Cristóvão, Bakhita... Outros narram com imaginação factos que, se não aconteceram, podiam ter acontecido, e assim transmitem valores cristãos. Escritos em modo maduro e poético, são mais sugestivos do que explícitos, pelo que exaltam a nossa capacidade criativa.

O marinheiro, avó da Marisa, que protagoniza o último dos contos, diz a um certo ponto: «Explorei tudo o que me apeteceu neste mundo e agora anseio por descobrir o outro». Pode ser o mote para esta singela leitura.

17/12/2011

Lir, de Wim Mertens (1985)

Wim Mertens é um compositor minimalista belga, nascido em 1953 e ainda activo, que já publicou dezenas de álbuns. De entre eles, Maximizing the audience (1985) destaca-se pela sua novidade: é o primeiro da sua longa carreira em que às suas composições de piano acrescenta a sua voz. Depois dele, outros instrumentos e vozes farão parte do seu vastíssimo repertório.

A composição Lir, de 18 minutos e 18 segundos na sua interpretação original, é por mim considerada a mais bela e profunda de todas: baseada num tema melancólico que se repete com leves variações, no início e no fim da partitura, no seu centro decompõe cada elemento desse tema, explorando como um espeleólogo nas caves mais recônditas do nosso espírito. Impossível que não se alargue a medida que escutamos.

Ainda recordo a primeira vez que ouvi estas notas num programa de rádio especializado em novas músicas. Tomei nota do estranho nome da composição e comprei o disco de 45 rpm. Hoje, as novas tecnologias tornaram tudo muito mais fácil.

11/12/2011

A Sagrada Família

Antoni Gaudì, 1882-

É uma espécie de catedral do nosso século, que pretende dominar a paisagem duma cidade moderna como Barcelona, como as catedrais góticas durante a Idade Média e Moderna. O seu projectista e primeiro arquitecto, cujo processo de beatificação está a decorrer, quis seguir esse exemplo mesmo nos meios de financiamento: são só as ofertas de crentes e visitantes que o tornam um «templo expiatório», e que fazem com que a sua construção já ultrepasse o século desde que começou.

A sua planta, mais ou menos tradicional, tem as dimensões dum campo de futebol. O seu interior pretende assemelhar-se a um bosque, o lugar onde o homem se sente mais bem acolhido segundo Gaudì, enquanto que o seu exterior aponta para o Céu com as suas numerosas agulhas que deverão chegar até aos 170 metros.

Talvez o aspecto mais espectacular são os conjuntos escultóricos, um dos quais foi realizado quase na totalidade pelo próprio Gaudì, o da Natividade. Perfeitamente inserido nas simbologias bíblicas e litúrgicas católicas, com imaginação dá lugar neles a profissões (desde o carpinteiro ao astrólogo), a animais (desde tartarugas a galos), a plantas e pessoas nas mais variadas actividades.

Não vale a pena ver fotografias ou vídeos: é preciso ver para experimentar uma verdadeira maravilha mundial.