28/12/2009

O aborto de Deus, de Alain Decaux

Lisboa: Quetzal, 2004, pp. 308, 10,00€

A genialidade desta vida de São Paulo é a sua contemporaneidade. É como ler um guia turístico, em que o Autor nos faz percorrer os lugares significativos da vida do protagonista.

Decaux delicia-nos com os seus conhecimentos da geografia e orografia, da Grécia e a Roma clássicas, da mitologia, das etimologias e das línguas, das fontes bíblicas e da teologia, dos estudos e biografias mais modernos deste santo cristão.

A história desta conversão ainda hoje não pode deixar indiferente: o fariseu Saulo, judeu observante e perseguidor dos primeiros discípulos de Cristo, torna-se em pouco tempo Paulo, o mais audaz desses discípulos. Esta biografia narra estas mudanças duma forma acessível a todos, com profundidade mas sem ser complicada ou excessivamente erudita.

24/12/2009

As mais belas histórias portuguesas de Natal, escolhidas por Vasco Graça Moura

Lisboa: Quetzal, 2008 (várias datas), pp. 461, 17,75€

Nem todas as histórias deste volume fazem referência explícita ao Natal, e nem todas elas são aquilo que se espera tradicionalmente deste subgénero literário. Poucas delas falam de Deus e ainda menos serão consideradas cristãs pelos leitores católicos. Algumas são pessimistas, outras tristonhas ou até trágicas.

Trata-se duma coleccão de histórias de variadas dimensões e temáticas, que divergem enormemente, sobre tudo em virtude dos seus Autores: Jorge de Sena, Miguel Torga, José Régio, Alexandre O'Neill e Fernando Namora são alguns dos nomes mais conhecidos que fazem perceber esta diversidade. Mas há também outros nomes mais discretos que destacam com escritas belas e temáticas profundas.

O melhor: o famoso Conto exemplar dos Três Reis Magos de Sophia de Mello Breyner. O pior: a «História de um muro branco e a neve preta» de um tal José Saramago que, como a própria neve preta faz intuir, não faz sentido.

Com prudência, uma boa leitura natalícia.

14/12/2009

Versos, de Amália Rodrigues

Lisboa: Cotovia, 2005 (1997), pp. 125, 12,00€

«O que distingue os poetas / os faz distintos da gente / é dizer em duas letras / o que toda a gente sente». Será que Amália se pode incluir na definição de «poeta» que ela própria dá nesta quadra?

A colecção de Versos que apresentamos quer responder «sim» a esta pergunta, colocando nestas breves páginas (com muito espaço branco, mas pouco bem apresentadas) uma colecção de poemas gravados, poemas não gravados, poemas cantados e umas cartas em verso.

A simplicidade do estilo não poderia ser maior, facto que pode ser considerado virtude ou limite. Os amantes da poesia clássica encontrarão quadras tão simples que parecem obra duma criança, e hão-de concluir que musicadas podem ter um seu valor, mas que em papel não prestam. Pelo contrário, aqueles que estiverem pouco familiarizados com a experimentação literária e com os recursos estilísticos requintados encontrarão uns textos de fácil leitura, lineares, compreensíveis à primeira vista.

Ambos tipos de leitores, porém, deverão reconhecer que o conteúdo destes versos, por muito simples e essencial que seja, brilha pela sua força e universalidade. Aqueles sentimentos de amor, tristeza, paixão e ternura pertencem-nos a todos. A fim de contas, dizem, em duas letras, «o que toda a gente sente».

06/12/2009

The Narnia Chronicles – The lion, the witch and the wardrobe (As crónicas de Nárnia – O leão, a feiticeira e o guarda-roupa), de C. S. Lewis

Lisboa: Presença, 2003 (1950), pp. 133, 8,00€

Há livros que alcançam sucesso em determinados momentos da história e depois ficam esquecidos. Esperemos que não seja este o caso das Crónicas de Nárnia, que alcançaram grande fama graças a dois filmes nos últimos anos. São sete os volumes dessa série, e só dois deles tiveram realização cinematográfica. Mas nos tempos que correm, nem sequer a imagem e as grandes campanhas publicitárias chegam para manter a tensão comercial duma obra em sete volumes. [Contudo, há ali um mágico a tentar, mas não se sabe se irá conseguir...]

De facto, estas Crónicas, que têm pouco de tal coisa, já cumpriram mais de 50 anos e ainda hoje continuam a ter o mesmo efeito que quando foram publicadas pela primeira vez. São uma espécie de contos para crianças e adultos, que escancaram as portas da nossa imaginação para alcançarmos mundos irreais, mas muito realistas.

O leão, a feiticeira e o guarda-roupa é o primeiro dos volumes da série, embora o Autor tenha colocado uma outra história antes, a modo de introdução. Por isso, hoje vemo-lo como segundo volume nas edições que as apresentam separadamente.

A travês de quatro crianças, com as suas virtudes e defeitos, somos introduzidos neste mundo de animais fantâsticos, relações de amizade e ódio, ajuda e divisão, que nos fazem entrar numa visão positiva da realidade e dos desígnios que nela existem. Nem mito nem alegoria, Lewis coloca-se na linha de Tolkien num uso inovador da literatura de fantasia como meio de alcançar valores eternos. Fantástico.