26/12/2008

Austrália

Baz Luhrmann, 2008

Mais do que o cartaz do filme, é o realizador Baz Luhrmann e a protagonista Kidman que despertam curiosidade e interesse nesta sugestão cinematográfica. Depois de projetos ambiciosos e arrojados como a versão moderna do Romeo + Juliet (con Di Caprio) ou Moulin Rouge, o realizador australiano apresenta o seu continente numa narração épica de tons mais tradicionais.

Destaca a sua realização óptima, principalmente a fotografia, os planos desde ângulos impensáveis e o discreto uso de sofisticadas tecnologias informáticas para criar efeitos especiais dignos duma grande produção.

Mas, principalmente, este realizador apresenta-nos uma história com ideais. «Tu és a tua história, e se não tens história, não pertences». No meio das vicissitudes de Sarah e Drover, junto com a criança Nullah, subjazem valores como a família, a amizade, o anti-racismo, a fidelidade, o heroísmo... muito apropriados para o nosso tempo.

Talvez seja necessário criticar a sua duração, provavelmente excessiva. Algumas falas da criança a armar-se em narrador omnisciente ou algumas imagens do avô feiticeiro, podiam ter sido cortadas antes e nada se perdia... Mas, no panorama actual, vale a pena tolerar essas cenas a mais (ou o sutaque australiano de quase todas as personagens, realmente difícil de ouvir com paciência...), porque ideais há cada vez menos...

2 comentários:

Anónimo disse...

Luis Mi,

não tenho por hábito (nunca o fiz) escrever em blogs a comentar o que quer que seja.
Como também vi o filme e, ao contrário de ti não gostei, comento este post dando, assim, uso a esta magnifica plataforma de cultura e liberdade que é “viver intensamente o real”.

- A duração do filme é desesperantemente longa. Embora tu faças (en passant) referência a tal facto, para mim foi determinante. Já não podia mais com as personagens do filme e as suas infinitas dúvidas e receios. A história podia (devia) ter sido contada em metade do tempo e com menos adornos.
- Humanamente, o filme apresenta algumas personagens com interesse. A abnegação do contabilista bêbado que acaba por morrer por amor à verdade (depois de reconhecer que foi cúmplice de um crime, tenta redimir-se). Drover acaba por ter algum interesse na medida em que à última da hora, prefere o amor de Sarah do que seguir com o seu estilo de vida “free-rider”. Vemos também como o ex-cunhado de Drover o acompanha de forma fiel e de como acaba a morrer heroicamente pelos miúdos na ilha.
- Por último, a personagem Nullah é irritante. Não percebi se era mimado porque era irritante ou irritante porque era mimado. A sua predestinação é motivo suficiente para tudo. Incluindo abandonar aquela que desde a morte da sua mãe era quem o protegia. Fá-lo sob a desculpa de uma “viagem” (imagino que teria tanto de geográfico como de interior) que se torna o centro do filme a partir do momento em que os dois protagonistas se zangam por divergências acerca da vocação de Nullah. O esoterismo da personagem encaixa muito bem na onda new age actual, a par da “liberdade” espiritual e física em que vive King George.
- Penso que a historicidade (embora oficialmente o filme não se assuma como histórico, é evidente a sua pretensão dissimulada) do filme perde a sua imparcialidade por tornar os “maus” horríveis e os “bons”, sem mácula. Não é realista, nem mesmo romance. Mesmo nos melhores romances, os bons mentem e os maus tratam bem os filhos. Mais ainda, esta segmentação bi-polar acaba por deixar (de forma inteligente e não declarada) o clero na que mais lhes convém, sob a pior forma possível: a de ser cúmplice passivo.

Resumindo, a história parece-me forçada demais, lamechas demais, longa demais. Não obstante tudo isto, penso que a nossa maior divergência será acerca da Nicole: não passa de um pãozinho sem sal.

Nota: O filme produziu em mim um sentimento horrível enquanto o via. Felizmente, tinha jantado pouco e a companhia era boa. Este comentário, em vez de ser um a tentativa racional de fazer uma crítica inteligente, não é mais do que a expressão de uma emoção (da qual ainda não me fui capaz de libertar) sob a capa de argumentos pseudo-inteligentes e cinematograficamente evoluidos (ou não).

Um abraço,
MNG

Anónimo disse...

No comentário anterior esqueci-me de dois pormenores:

- Que o filme é declarada e exclusivamente para mulheres dadas as vez que há grandes planos da barba do Hugh Jackman.
- A fotografia do filme é boa, dado que as paisagens da Australia são boas. Mas a certa altura, as paisagens de deserto cansam o espectador.

MNG