Na sua Autobiografia, G. K. Chesterton afirma que «até na época em que eu não acreditava em nada, acreditava naquilo que alguns chamam "o desejo de acreditar"». Por isso, a Ortodoxia, que hoje aparece numa nova edição portuguesa e publicada originalmente antes da sua conversão «oficial», no fundo é tão ortodoxa como os seus últimos escritos.
Nesta obra, o genial autor británico faz uso da sua característica ironía, sempre simpática e fácil de ler, e dos paradoxos que lhe deram fama internacional. Nela afrontou temas actuais na passagem do século XIX ao século XX, que curiosamente são também de grande actualidade nos nossos dias. Quase ensaio, quase transcrição de linguagem falada, não deixa indiferente ao leitor desejoso de se interrogar pelos grandes problemas da convivência social e das relações humanas.
Como amostra, um breve fragmento que circula nestes dias entre os amigos:
«É fácil ser louco; é fácil ser herege. É sempre fácil permitir que o século leve a sua avante; o difícil é resistir-lhe.
É sempre fácil ser moderno; como é fácil ser pretensioso. Teria sido realmente muito simples cair em qualquer das armadilhas simples do erro e do exagero que moda após moda e seita após seita montaram no caminho do cristianismo.
Cair é sempre simples; a pessoa pode cair num número infinito de posições, mas só pode permanecer de pé numa posição. A coisa mais óbvia, a atitude mais domesticada, teria sido efectivamente deixar-se levar por qualquer desses caprichos, desde o gnosticismo até ao cientismo cristão.
Tê-los evitado é que foi uma espantosa aventura; na visão que eu tenho dos factos, o carro dos céus avança estrepitosamente pelos tempos fora, as domesticadas heresias vão cedendo e prostrando-se, a selvagem verdade progride titubeando, mas sem nunca cair
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