18/01/2010

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?, de António Lobo Antunes

Lisboa: Leya, 2009, pp. 375, 18,00€

Deixando de lado as recensões e críticas a esta obra para quem goste de erudição, para o leitor comum este livro propõe um mergulho numa experiência de vida. Não é imediato compreender como isto acontece, mas basta deixar-se levar, sem essa pretensão. Um pouco como dizia John Keats em relação à poesia: é como mergulhar num lago, sem a preocupação de chegar à beira.

De facto, a escrita de António Lobo Antunes é provavelmente a mais genial que exista neste momento em língua portuguesa. E, se no princípio custa um pouco sair da gramática e pontuação habituais, depois de algumas páginas perguntamo-nos como será aborrecido e já sabido ler no estilo tradicional...

A sua força e a sua debilidade é ser um romance sem história (sem plot, na terminologia inglesa): personagens congelados em fotografias que reúnem passado, presente e futuro; ambientes facilmente reconhecíveis; a beleza e o sofrimento ligados aos mais comuns sentimentos humanos. «Talvez fosse a que perseguimos desde sempre e estava ali à mercê, se torna ela mesma os passos e as vozes, afinal recuerámo-la», esta experiência vital: «são pessoas, episódios, lembranças, o sótão poeirento que compõe uma existência» (p. 356).

2 comentários:

AS disse...

Gostei deste texto e partilho todas as ideias. Excepto "ambientes facilmente reconhecíveis"... Que quer isto dizer?

Luismi disse...

"Ambientes facilmente reconhecíveis" é uma expressão sinestética, que tem por objectivo realçar a proximidade do leitor aos incertos locais e cenários descritos no romance. É fácil reconhecer esses ambientes como típicos duma região e época portuguesas.