A França de São Martinho sempre deu à Igreja Católica grandes homens de cultura, e um deles é, sem dúvida, Charles Péguy. No princípio do século XX, este poeta e crítico torna-se uma das figuras mais relevantes do panorama cultural da França republicana e laica, com um percurso pessoal que vai do socialismo até a uma conversão pouco pacífica, sempre à margem do establishment da elite intelectual católica.
Péguy escreve teatro e poesia, para além de ensaios. Mas a barreira do género literário é complexa neste autor: o seu teatro é irrepresentável (com crianças a ressuscitar em cena ou passarinhos que voam a chilrar, por exemplo), e a sua poesia é sempre dramática, é sempre um diálogo.
Neste monólogo teatral chamado «O pórtico do mistério da segunda virtude» (que se refere à esperança), as vozes poéticas meditam sobre esta virtude, com imagens que impressionam o leitor: a esperança tem o rosto dum pai que trabalha nos campos para sustentar a sua família, ou duma criança que vai a frente e atrás numa procissão do Corpo de Deus.
A presente edição conta com uma notável introdução, que introduz nas chaves da biografia de Péguy e nalguns elementos da sua poética e visão do mundo. É daquelas que vale a pena ler.
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