08/09/2009

Thomas More, de Peter Ackroyd

Lisboa: Bertrand, 2003 (1998), pp. 301, 30,00€

Recentemente, um amigo e professor italiano explicou-me porque é que os melhores biógrafos pertencem à tradição anglo-saxónica: o pragmatismo característico deles opõe-se a uma visão de corte marxista que vê a história como uma série de processos sociais, em que o indivíduo é posto em segundo plano.

Desde este ponto de vista, Peter Ackroyd é um mestre anglo-saxónico. As suas muitas obras, entre as quais se destacam as biografias literárias de figuras como T. S. Eliot ou W. Shakespeare, colocam sempre o indivíduo no centro da história. A pessoa é protagonista das suas acções, obras, e também do seu destino.

Ackroyd é também um biógrafo genial na sua escrita. Sempre com grande equilíbrio, mostra o seu domínio das fontes históricas, sem carregar o texto com demasiadas citações, a pesar de serem subjacentes ao mesmo. Em especial, é genial a escolha duma metáfora para cada capítulo, uma chave de interpretação dum período ou dum evento importante, que desenvolve como imagem simples mas poderosa.

Em particular, esta vida de Thomas More é um retrato inteligente e equilibrado duma figura polémica no seu tempo e complexa na sua evolução pessoal. A unidade da vida deste homem político desvenda-se em cada página, na ligação entre a sua implacável fé cristã medieval e o seu amor pela lei como guardiã da ordem que essa fé simboliza, na altura ameaçada pelo individualismo, a Reforma e o seu melhor amigo: o Rei Henrique VIII.

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