12/01/2016

Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos exemplares


Porto: Porto Editora, 2014, 164 pp., 12,00€
Mais do que uma narradora, Sophia de Mello Breyner é uma poetisa que escreveu contos. Ao mesmo tempo, as suas narrações são tão profundas que o Prefácio do Bispo António Ferreira Gomes chega a afirmar que nelas «há mais conteúdo cristão que nas de Cervantes ou Camões», e que a sua comunicabilidade essencial e interioridade riquíssima, feita de comunhão humana, superam os maiores: Hölderlin, Rilke, Shelley ou Pessoa.
Aquela que se pode aclamar como a maior poetisa portuguesa do século XX não poderá ser, portanto, reduzida a simples narradora de contos infantis, etérea poetisa do absoluto ou revolucionária socialista anti-regime. A sua riqueza poética e simbólica faz com que os seus Contos sejam verdadeiramente «exemplares», no sentido que os clássicos davam a esta palavra: exemplos ou paradigmas de experiências humanas, concretas e universais.
Como na grande literatura clássica, estes Contos exemplares procuram a nobreza de cada experiência e falam a partir de uma consciência existencialmente comprometida. Em muitos deles, a ironia chega a ser mordaz, na crítica a quem só olha para as aparências e se julga protegido no conforto das suas certezas. Mas, em última instância, prevalece uma simpatia humana, que reconhece o bem da realidade que existe e do outro que me ajuda a vê-la.

[*com um agradecimento a Rosarinho Lupi-Bello]

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