Porto:
Porto Editora, 2014, 164 pp., 12,00€
Mais
do que uma narradora, Sophia de Mello Breyner é uma poetisa que
escreveu contos. Ao mesmo tempo, as suas narrações são tão
profundas que o Prefácio
do
Bispo António Ferreira Gomes chega a afirmar que nelas «há mais
conteúdo cristão que nas de Cervantes ou Camões», e que a sua
comunicabilidade essencial e interioridade riquíssima, feita de
comunhão humana, superam os maiores: Hölderlin, Rilke, Shelley ou
Pessoa.
Aquela
que se pode aclamar como a maior poetisa portuguesa do século XX não
poderá ser, portanto, reduzida a simples narradora de contos
infantis, etérea poetisa do absoluto ou revolucionária socialista
anti-regime. A sua riqueza poética e simbólica faz com que os seus
Contos sejam verdadeiramente «exemplares», no sentido que os
clássicos davam a esta palavra: exemplos ou paradigmas de
experiências humanas, concretas e universais.
Como
na grande literatura clássica, estes Contos
exemplares procuram
a nobreza de cada experiência e falam a partir de uma consciência
existencialmente comprometida. Em muitos deles, a ironia chega a ser
mordaz, na crítica a quem só olha para as aparências e se julga
protegido no conforto das suas certezas. Mas, em última instância,
prevalece uma simpatia humana, que reconhece o bem da realidade que
existe e do outro que me ajuda a vê-la.
[*com um agradecimento a
Rosarinho Lupi-Bello]
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