em Doce Pássaro de
Juventude e outras peças
Lisboa: Relógio d'Água,
2015, pp. 394, 18,00€
As obras do dramaturgo
Tennessee Williams estão atravessadas pela contínua busca desse
«qualquer coisa de inesperado pelo que vivemos e que sempre se
atrasa», segundo as suas próprias palavras. Em todas elas
encontram-se personagens opostos que, duma ou outra forma, tentam
encontrar um significado para as suas miseráveis vidas.
O
zoo de vidro, o primeiro dos seus dramas de sucesso, faz referência
ao frágil mundo da ilusão em que Laura Wingfield se refugia: por
ser tímida e ligeiramente coxa, tornou-se incapaz de enfrentar a
realidade. Do mesmo modo, as restantes personagens desta peça
procuram num passado glorioso ou no cinema uma possibilidade de fugir
ao asfixiante ambiente familiar. O
encanto dos protagonistas está no facto de que nenhum deles se
contenta com o estado presente, mas procuram, projetam, esperam, ao
terem já visto que a tentativa de fugir é naturalmente um falhanço.
Trata-se dum teatro cheio de
diálogos vivos, que se movem constantemente entre o plano realista e
o plano simbólico. O narrador confessa ter «debilidade pelos
símbolos», pelo que se encontram muitos elementos que remetem para
uma realidade além da textual, muitas vezes enfatizados por
mensagens que aparecem num écran no palco e que oferecem chaves de
compreensão do que está a acontecer.
A alternativa a este falso
mundo de ilusões é sugerida pela personagem de Jim O'Connor, um
católico irlandês que acredita no sistema capitalista. Ele aceita
jantar na casa dos Wingfield e, enquanto que essa família pretende
fazer dele o pretendente da Laura, por sua vez Jim oferece a
possibilidade de que todos possam enfrentar a realidade. Na
ambiguidade que sempre prevalece no teatro de Williams, Jim
conseguirá que Laura saia do seu mundo de sonhos e se abra uma porta
à esperança.
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