25/01/2016

O zoo de vidro, de Tennessee Williams

em Doce Pássaro de Juventude e outras peças
Lisboa: Relógio d'Água, 2015, pp. 394, 18,00€
As obras do dramaturgo Tennessee Williams estão atravessadas pela contínua busca desse «qualquer coisa de inesperado pelo que vivemos e que sempre se atrasa», segundo as suas próprias palavras. Em todas elas encontram-se personagens opostos que, duma ou outra forma, tentam encontrar um significado para as suas miseráveis vidas.
O zoo de vidro, o primeiro dos seus dramas de sucesso, faz referência ao frágil mundo da ilusão em que Laura Wingfield se refugia: por ser tímida e ligeiramente coxa, tornou-se incapaz de enfrentar a realidade. Do mesmo modo, as restantes personagens desta peça procuram num passado glorioso ou no cinema uma possibilidade de fugir ao asfixiante ambiente familiar. O encanto dos protagonistas está no facto de que nenhum deles se contenta com o estado presente, mas procuram, projetam, esperam, ao terem já visto que a tentativa de fugir é naturalmente um falhanço.
Trata-se dum teatro cheio de diálogos vivos, que se movem constantemente entre o plano realista e o plano simbólico. O narrador confessa ter «debilidade pelos símbolos», pelo que se encontram muitos elementos que remetem para uma realidade além da textual, muitas vezes enfatizados por mensagens que aparecem num écran no palco e que oferecem chaves de compreensão do que está a acontecer.
A alternativa a este falso mundo de ilusões é sugerida pela personagem de Jim O'Connor, um católico irlandês que acredita no sistema capitalista. Ele aceita jantar na casa dos Wingfield e, enquanto que essa família pretende fazer dele o pretendente da Laura, por sua vez Jim oferece a possibilidade de que todos possam enfrentar a realidade. Na ambiguidade que sempre prevalece no teatro de Williams, Jim conseguirá que Laura saia do seu mundo de sonhos e se abra uma porta à esperança.

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