18/01/2014

O ofício de viver, de Cesare Pavese

Lisboa: Relógio d'Água, 2004, pp. 400, 19,90€
Ao usar o adjectivo «erudito» aplicado a um Autor, por vezes é hoje revestido duma conotação negativa, como se o vasto saber fosse uma espécie de má-criação para um leitor que se desclassifica como medíocre.
Eruditos e geniais são certamente os diários do romancista e poeta italiano Pavese recolhidos nesta obra. Percorrendo os últimos 15 anos da sua vida, entre 1935 e 1950, esta figura chave da literatura europeia do século XX reflecte sobre a criação literária, o sofrimento, as suas leituras, a procura de sentido, o peso das palavras, entre outros muitos temas. Abordam-se esses temas de forma muito fragmentária, dado que as entradas de diário são geralmente breves, mas alguns deles repetem-se e reaparecem com renovada maturidade.

A forma do diário permite percorrer a vida pública deste escritor, ao passo que se entra na sua intimidade. Vai abrindo-nos o olhar à realidade que observa e descreve, que diz ser muito maior do que ele, e confessa que o faz tendo já perdido a batalha, porque «nunca se viu que uma poesia mudasse as coisas». Com momentos de profundidade insólita, nas suas reflexões laicas e sem fé à procura de si mesmo, é uma leitura que não deixará indiferente a ninguém.


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