«Desde que encontrei a arte, a minha cela tornou-se a minha prisão». Assim diz um dos presos que teve a oportunidade de representar a tragédia de Júlio César na prisão de Roma, tema deste filme. No princípio da história, reclamava o seu direito a uma cela individual; já no final, reconhece que a arte o tinha aberto ao mundo.
É um filme estranho este. Por uma parte, dominam-no uns belíssimos textos da tragédia Julius Caesar de Shakespeare, encenados num contexto actual de grande força e que suscita muitas provocações, realizados numa sequência a três tempos e sem tempo (isto é, no tempo de César, de Shakespeare, dos presos, de ninguém...). Por outra parte, a escolha dos actores/presos, assim como o uso do preto e branco na maior parte do filme, criam distâncias muitas vezes de grande violência para o espectador.
É uma interessante experiência. Sem dúvida, de alguma forma relacionada com o maravilhoso documentário «Jesus por um dia», de Verónica Castro e Helena Inverno, duas portuguesas que filmaram a encenação duma Via Sacra por parte dos presos de Bragança numa aldeia transmontana quase desabitada.
A ligação entre os textos originais e o contexto apresentado desperta inúmeras questões sobre a justiça, a redenção, o poder, o valor da arte. Todas elas valem a pena.
1 comentário:
Interessante o seu texto. Acho que já lhe tinha dito que quando vi a sinopse do filme lembrei-me logo do "Jesus por um dia"!
Seria bom aprofundar um bocadinho mais essa parte em que diz que poderá haver uma influências das realizadoras portuguesas...
Um abraço,
A.
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