O teatro de García Lorca, provavelmente o maior dramaturgo de língua espanhola do século XX, tem várias constantes que o tornam a um tempo delicado, profundo e quase mítico. São estas a concepção trágica da existência, a abordagem das «grandes questões» (amor, morte, sofrimento) e a sua linguagem simples e popular.
Para além das considerações ideológicas relativas às orientações políticas ou até sexuais do autor, é impossível não reconhecer o seu génio artístico e criativo. A descrição dum mundo fechado em si próprio, onde as forças do instinto e das paixões humanas lutam por encontrar vias de escape, leva inevitavelmente a uma crise, geralmente purificadora, na forma teatral da tragédia. Podemos encontrar elementos semelhantes no teatro de Ibsen ou de Tennessee Williams.
Em Bodas de sangue, o próprio título apresenta o resumo da acção: um noivo e uma noiva, e as respectivas famílias, combinam e preparam-se para a celebração deste casamento banhado pelo sangue. Velhas paixões vencem a razão («pregos de lua fundem a minha cintura e o teu quadril»); e o destino faz justiça («tapados com dois cobertores vêm eles / sobre as costas dos altos rapazes»).
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