30/01/2012

Liberdade (Freedom), de Jonathan Franzen

Lisboa: Dom Quixote, 2011 (2010), pp. 688, 25,00€

Este romance americano é apresentado por alguns como uma obra-prima do século XXI. É sem dúvida interessante. Sobretudo, porque explora os temas que sempre interessaram a América do Norte (e no fundo a todos nós), no contexto actual. Principalmente se questiona o tema do próprio título: até que ponto as liberdades individuais, que estão nas raízes da mentalidade americana, podem ser postas em discussão em prol do bem comum.

Não pensem que é um livro maçudo e intelectual: é grande, mas é muito ligeiro e lê-se muito bem. Narra-nos as histórias de vários membros de uma família e alguns seus amigos, histórias entrecruzadas que vão e voltam como acontece em qualquer uma das nossas vidas. Está construído numa sequência temporal muito inteligente, que consegue mostrar as últimas décadas do século passado até ao início da «era Obama». Mantém-se também mais ou menos imparcial no que diz respeito a opiniões políticas, só usadas como provocações ao leitor.

Desperta mais perguntas e reflexões das que consegue responder, de maneira que as nossas expectativas podem ficar um pouco desiludidas. Mas também pode ser essa a grande virtude do romance: obriga-nos a sermos nós a pensar.

17/01/2012

Andante festivo para cordas, de Jean Sibelius (1938)

«Esta obra é uma pequena jóia, bastante desconhecida mas duma clareza, duma simplicidade sem pretensões, duma frescura pouco habituais. É uma composição que, ouvida pela primeira vez, chama a atenção, mas é nas seguintes audições que se chega a apreciar na sua beleza.

«O compositor desta maravilha em miniatura é o finlandês Johan Julius Christian Sibelius, mais conhecido como Jean Sibelius. Viveu entre os séculos XIX e XX (1865-1957) e, a pesar da sua ascendência sueca, foi profundamente amnate da Finlândia, das suas paisagens e gentes, algo que plasmou em toda a sua obra.

«Também neste Andante festivo para orquestra de cordas. A pesar da sua aparente simplicidade, a gestação desta peça durou mais de 15 anos, e há estudiosos de Sibelius que a colocam até 30 anos antes da sua estreia na forma definitiva. Seja como for, a beleza desta música de só 4 minutos e meio é indubitável. As tensões que cria são resolvidas em cada instante, aprofundando assim a sua clareza, à qual contribui a construção da mesma apoiada numa célula rítmica de pergunta-resposta».

(Por Ángel Cebolla)

09/01/2012

Drive – duplo risco (Drive)

Nicolas Winding Refn, 2011

Este filme abre com uma perseguição que já se tornou um clássico na indústria cinematográfica, por ser a mais lenta da história dos filmes de carros. Em lugar da típica corrida que deixa atrás camiões e polícias acidentados, o protagonista de Drive desliga os faróis, encosta e deixa passar o perigo. Depois segue.

A história é algo mais típica: um operário duma oficina, que à noite trabalha sem escrúpulos como transportador de delinquentes, e que numa dada altura se deixa envolver emotivamente por uma mãe em perigo. Ainda assim, o argumento tem a capacidade de nos surpreender em vários momentos.

Depois, temos a brilhante interpretação de Ryan Gosling, cuja misteriosa personagem não deixa de nos inquietar com os seus silêncios. Ao mesmo tempo, esses silêncios permitem também uma das mais belas cenas de amor sem palavras (e sem sexo) das últimas décadas.

Também a banda sonora de Cliff Martínez é notável. Ajuda a criar e manter a tensão desses silêncios, e depois acrescenta uma belíssima estética dos anos 80 com alguns temas de valor, como os oferecidos pelos Electric Youth ou por Desire.