Um esplêndido Ferrari 360 Modena preto repete um percurso no asfalto, no silêncio duma paisagem árida só quebrado pelo seu motor. O plano parece desenquadrado: vemos só parte deste recorrido e não temos outros elementos que o caracterizem. Mas, num certo momento, o Ferrari pára e saindo o seu motorista, Johnny Marco, formam um plano tão perfeito que parece um postal ou uma fotografia de Prémio Pulitzer.
Estes três primeiros minutos de filme descrevem bem o que nos é apresentado ao longo de uma hora e meia. A inócua vida de um actor de sucesso na Califórnia, que dá voltas sobre si mesmo num tédio quase próprio de Camus, incapaz de comunicar além da superficialidade do momento – uma bela descrição da verdadeira vida que se oculta no mundo da aparência hollywoodiana.
A história adquire o seu conteúdo pela aparição da filha do actor Marco, que vem trazer uma lufada de humanidade à sua vida. Mas é principalmente pela estética que este filme convence: um cinema muito cuidado, em que tudo tem o seu porquê. Perguntem-se, se não, porque é que uma das frases mais significativas que Marco diz à sua filha, quase que nem se ouve pelo ruído do motor dum helicóptero.
Desta vez, permito-me um spoiler: no fim, o Ferrari deixa de dar voltas e vai numa certa direcção...
1 comentário:
Um filme soberbo: sempre; aliás, para quem é fã da Sofia Coppola esta é uma obra a não perder.
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