26/10/2009

The soloist (O solista)

Joe Wright (2009)

Um jornalista do Los Angeles Times, Steve Lopez, pretende escrever um artigo sobre um sem-abrigo, outrora músico promissor. Mas percebe logo que este encontro vai abrir novos horizontes para a sua vida: «Nunca amei nada da maneira que ele ama a música», diz depois duma das suas primeiras conversas com ele.

O realizador Wright, que já nos surpreendeu positivamente com Atonement (Expiação), explora de novo situações pessoais ao limite, para redescobrir o lado bondoso e mais humano de dois homens sozinhos e rejeitados. Saíndo do cliché do génio musical-doente mental (por exemplo, de Shine, com Geoffrey Rush, de 1996), arrisca muito no estudo meditativo duma relação conflitual, que protagoniza o filme mais do que a música ou a excelente fotografia.

A mensagem final é excelente: uma lição de humanidade para quem se lança no voluntariado à procura de responder às necessidades dos outros, e não consegue mudar nada, mas acaba por receber muito mais do que teria esperado: a satisfação da entrega da vida.

O seu defeito é talvez ser «demasiado» meditativo, isto é, por vezes lento. Quem gostar de Beethoven, poderá deliciar-se com as suas músicas e os jogos de destaque do violoncelo solista e da orquestra (incluindo um jogo visual interessantíssimo). Quem amar pouco a música clássica, veja o filme num dia em que não estiver sonolento.

11/10/2009

A grief observed (Dor), de C. S. Lewis

Lisboa: Grifo, 1999 (1960), pp. 150, 7,50€

O que ler quando «estamos em baixo»? Há quem diga que nessas alturas é melhor ler histórias de ficção científica ou de aventura, «para esquecer a mágoa». Pelo contrário, há poucos dias conversava com um amigo e ambos coincidíamos na opinião oposta: nesses momentos, é necessário encontrar alguém (um amigo escritor, vivo ou não) que tenha experimentado o que estamos a viver, de maneira que nos possa tirar da solidão em que nos tendemos a fechar.

Feita esta premissa, percebe-se que estes cadernos de apontamentos, a modo de diário, que têm por título «Uma pena em observação», são exactamente isso: um estudo sobre a tristeza, que nos poderá levar além da mesma.

Na vida do genial C. S. Lewis, a morte da sua mulher Joy, após vários períodos sucessivos de agravamento duma doença incurável, foi ocasião deste escrito privado, que assinou com um pseudónimo. Já convertido ao Cristianismo, o escritor debate-se entre a presença e a ausência da pessoa amada, interroga-se pelos próprios sentimentos que prova, pela sua relação com Deus. E não deixa indiferente, no concreto das suas imagens e experiências, ao leitor que não tenha fechado o seu entendimento àquilo que é humano.

06/10/2009

Fame

Kevin Tancharoen (2009)

«Youve got big dreams? You want Fame? Well, Fame costs. And right here is where you start paying in sweat». Assim começava a famosa série dos anos oitenta que inspira este remake, que precisamente nos primeiros minutos repite esta frase junto com aquele famoso refrão de Irene Cara: «Remember... Remember...».

De resto, só a Academy of Performing Arts of New York e o ambiente escolar de adolescentes mantém uma certa semelhança com as recordações daquela série. A música, as coreografias, o uso das tecnologias e as personagens são muito diferentes e muito mais apelativas nesta versão. Por vezes sobrecarregada de diálogo e de drama, não há dúvida de que são brilhantes algumas cenas musicais (em particular, a jam no bar da Faculdade).

O tema é que é realmente fascinante (não a história, quase inexistente). Embora possa parecer banal, este grupo de rapazes e raparigas com talento, que procuram o sucesso nos seus dramas adolescenciais, reflectem bem o que é o homem. E sobre tudo, reflectem algo muitas vezes esquecido: como os grandes desejos definem as pequenas acções do dia-a-dia de cada ser humano.

Pode parecer irreal este grupo de professores e alunos que sempre se dão bem e ajudam, que consideram a pessoa como uma unidade, que querem tirar o melhor de si próprios e dos outros. Mas, permitam-me opinar, se cada um de nós começasse a fazer isto na sua porção de mundo, de certeza seríamos mais felizes. Como os rapazes e raparigas de Fame.