16/06/2011

A árvore da vida (The tree of life)

Terrence Malick (2011)

A pergunta religiosa do homem moderno pode-se sintetizar nesta: se Deus existe, porque existe o mal? Porque as doenças, a morte, os desastres ecológicos, a infelicidade? Malick responde neste filme propondo a beleza da criação e da vida (longe de respostas doutrinais ou morais), visível na natureza, nos arranha-céus de Houston, nas crianças que crescem ou nas belíssimas músicas de Dvorak, Gorecki ou Bach.

Claro que também está presente no filme a resposta cristã: desde o início encontram-se ressonâncias bíblicas, assim como uma visão católica da realidade que encontra expressão no padre que ajoelha numa capela ou numa certa iconografia.

Reduzir esta obra-prima a este aspecto seria fazer o contrário do que se propõe, que é relançar o nosso olhar numa visão completamente nova. Malick, ouso dizer, desafia-nos a ver o mundo desde o ponto de vista de Deus. E abre-nos ao diálogo com Deus, cheio de difíceis questões: a evolução (que evita com elegância a fase da aparição do homem), o nosso lugar no mundo, a vida além deste mundo, a Vida com V grande.

Sem ser simplista, na medida em que isso é possível numa breve recensão, a história (mais uma rapsódia que um romance) resume-se na contraposição de duas estradas: a natural, no seu sentido menos nobre, representada por Brad Pitt, e a da graça, Jessica Chastain. Sean Penn, impressionante, escolheu aquilo que faz o espectador: atravessar o limiar e ver. Como Deus vê.

14/06/2011

Pina

Wim Wenders (2011) Este é um filme centrado na beleza, e a beleza é algo que não se compreende nem se pode explicar. Pode-se só ver, experimentar. Com efeito, o seu realizador Wenders, e também uma das bailarinas do filme por palavras semelhantes, afirmam que Pina Bausch «confiava muito mais naquilo que se pode ver que naquilo que se pode dizer». E aqui vemos filmagens extraordinárias, como que nos fazem entrar num palco, que ao mesmo tempo não cansa, porque se desdobra em contextos urbanos, salas de espectáculos, lugares monumentais e florestas. A través da dança, de facto, esta homenagem à recentemente falecida coreógrafa que dá título à longa-metragem é uma poesia visual. Mas não só: também mostra a grandeza humana desta mulher, que não se pode reduzir à pura originalidade da sua arte, mas que se manifesta muito bem ao fazer vir ao de cima o que cada indivíduo é. Sirva como exemplo a cena em que um gesto de alegria que um bailarino realiza é desenvolvido numa coreografia completa. Predominam as cenas em que uma mulher protagonista se mostra frágil ou debilitada, sinal da profundidade do seu drama humano, e uma pergunta de fundo explicitada quase no fim (antes do fado final em que os olhos são comparados a duas Avé-Marias): «What are we longing for? Where does all this yearning come from?»