A pergunta religiosa do homem moderno pode-se sintetizar nesta: se Deus existe, porque existe o mal? Porque as doenças, a morte, os desastres ecológicos, a infelicidade? Malick responde neste filme propondo a beleza da criação e da vida (longe de respostas doutrinais ou morais), visível na natureza, nos arranha-céus de Houston, nas crianças que crescem ou nas belíssimas músicas de Dvorak, Gorecki ou Bach.
Claro que também está presente no filme a resposta cristã: desde o início encontram-se ressonâncias bíblicas, assim como uma visão católica da realidade que encontra expressão no padre que ajoelha numa capela ou numa certa iconografia.
Reduzir esta obra-prima a este aspecto seria fazer o contrário do que se propõe, que é relançar o nosso olhar numa visão completamente nova. Malick, ouso dizer, desafia-nos a ver o mundo desde o ponto de vista de Deus. E abre-nos ao diálogo com Deus, cheio de difíceis questões: a evolução (que evita com elegância a fase da aparição do homem), o nosso lugar no mundo, a vida além deste mundo, a Vida com V grande.
Sem ser simplista, na medida em que isso é possível numa breve recensão, a história (mais uma rapsódia que um romance) resume-se na contraposição de duas estradas: a natural, no seu sentido menos nobre, representada por Brad Pitt, e a da graça, Jessica Chastain. Sean Penn, impressionante, escolheu aquilo que faz o espectador: atravessar o limiar e ver. Como Deus vê.